quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Redação: Transcendendo os limites da vulgaridade

No conto "A teoria do medalhão" de Machado de Assis defende-se uma tese cujo objetivo é delimitar passos específicos para que uma pessoa se torne o que pode ser compreendido como "medalhão" - aquele que se limita à vulgaridade apenas para obter um, aparentemente, bom caráter, que o torne em um símbolo, um referencial.
Este artifício, recorrente a tais pessoas para adequarem-se às máscaras sociais mais queridas e almejadas popularmente, é facilmente justificável: é cômodo ouvir o que já foi dito, esquivar-se de uma realidade e ter uma trajetória linear de vida, sendo assim desnecessárias grandes manobras para se viver.
Justamente por nos acomodarnos com os incômodos rotineiros, tendemos ao estranhamento de qualquer ideia que desconstrói o lugar-comum, chegando até mesmo a rejeitá-las, pois, citando Caetano Veloso, "Narciso acha feio aquilo que não é espelho". Desta forma, poucos refletem sobre nossas instituições, nosso comportamento e nossos valores, tidos como pilares sociais.
Por tudo isso, é válido vasculharmos os aspectos mais singelos e prosaicos a fim de compreendermos, por exemplo, por quê nos vestimos de uma forma tão parecida; por quê a política é vista como motivo de piada ou com repulsão para tantas pessoas; por quê as escolas não dão maior enfoque humanitário ao invés de serem apenas conteudistas, e em alguns casos, prepararem os alunos única e exclusivamente para o vestibular. Esses questionamentos podem evitar que absorvamos os costumes ao extremo, até o ponto em que o natural e o normal já não se distinguam tanto, senão por uma linha tênue.
Em suma, a cultura da vulgaridade acaba por, mesmo que sorrateiramente, padronizar o homem em uma dimensão ampla, reduzindo-o ao medíocre. E como consequência dessa cultura, surgem os tais "medalhões" que personificam a ostentação pelo luxo e tipificam uma classe intelecto e socialmente estagnada. Trata-se, assim, da receita ideal para a formação de uma legião cada vez menos participativa e mais acomodada, lacaia do poder público.

Um comentário:

B. Ariola disse...

Antes tudo, preciso dizer: Van, às vezes eu me sinto tão pequenininha perto dos seus textos! hehehe Sério, você escreve muito bem, eu gosto muito da maneira como você organiza as ideias e, principalmente, seu vocabulário que sempre deixa uma vontade maior de ler!
Admiro muito isso em você, mesmo mesmo.

Quanto a redação, acho que você pegou bem a proposta! Conseguiu transcender os limites da vulgaridade, deixando bem exposto o que está além do clichê. E ah, lindo da sua parte a citação do Caetano!
(não tô muito boa pra comentários inteligentes que debatem o texto em questão...)

Bom, espero que a Bartira seja bem sensata na sua avaliação.

PS: Não pude deixar de reparar no "Em suma" no finalzinho...hahaha.